sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

"Gentrificação: intervenção feita em espaços urbanos no Rio de Janeiro"

Nosso país parece ter entrado de fato em um sistema que há tempos tem buscado. As PPPs (parceria público privada)
O que deveria ser uma parceria, se tornou uma inversão de poderes.
Parece os filmes de Hollywood em que cidades inteiras pertencem ao setor privado. Onde empresas se tornam donas do legislativo, executivo e judiciário.
Cidades onde mega empresas ditam as regras e definem prioridades, sentenças, destinos...

Com o anúncio do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016, a cidade vem passando por enormes transformações. Canteiros de obras para todos os lados e com eles parcerias de todos os tipos. Nesta empreitada, o governo carioca vem transferindo responsabilidade de serviços públicos para empresas do setor privado.
Ninguém sabe de onde ou como surgiu tantos BILHÕES. Somente em um desses canteiros serão gastos mais de 7 bilhões de reais. Este imenso canteiro de obras leva o nome de Porto Maravilha. A maior parceria público privada do país.
Um outro grande canteiro, são as obras das Trans.

Centenas de famílias que estão sendo expulsas de suas casas devido as obras das vias expressas Transoeste, Transolímpica, Transcarioca e Metrô, todas estão sendo construídas para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.
A Transoeste, segundo a prefeitura do Rio, deve sair ao custo inicial de R$ 800 milhões.
Para isso, moradores de subúrbios e das comunidades da Restinga, Vila Harmonia e Vila Recreio II, na zona oeste da cidade, estão sendo despejados.
Há relatos de moradores que durante a madrugada do dia 17 para o dia 18 de dezembro de 2010, policiais arrombaram casas, expulsando as famílias e ameaçando todos de prisão. Outros que saíam para trabalhar e, quando voltaram, suas casas tinham sido demolidas com a mobília dentro. Outros reclamaram de estar sendo pressionados diariamente por funcionários da Prefeitura a deixar o local.
Por conta dessas denúncias e por grande pressão da sociedade civil, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) solicitou ao Brasil no início de março de 2011, informações sobre os despejos. A solicitação atende ao pedido de medida cautelar encaminhada pelas comunidades à CIDH. A denúncia também foi realizada pela própria relatora da ONU para o direito à moradia adequada, Raquel Rolnik.
E estamos só no começo, estão previstas remoções de 130 favelas até 2016.

A constituição federal vem sendo burlada ao cair da noite.
Processos de desapropriações que deveriam durar anos são assinados por juízes em tempo recorde, as indenizações calculadas não chegam a metade do valor de mercado do imóvel .
Quando o interesse privado se sobrepõe ao interesse público, vejo famílias despejadas como em Pinheirinho.

Justiça, estado e polícia a serviço do setor privado enquanto milhares de pessoas que deveriam ter a proteção dos poderes constituídos sendo despejadas em favor daqueles que hoje se tornaram os donos da nação.

Estamos assistindo a "gentrificação" da nossa cidade, e os cariocas aplaudem e valorizam sem levar em conta que as mudanças estão colocando em risco a "coesão social e a inclusão de distritos históricos, levando mesmo, em alguns casos, a uma transformação social brutal e a despejos forçados".

Fico realmente espantada com esses acontecimentos que me fazem refletir sobre o ditado "A vida imita a arte". Será que teremos um final feliz?