quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Princípio. Que culminou com a "guerra" no Rio.

Nesses dias tensos no Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo estão se perguntando: Que guerra é essa? Como pessoas que vivem na pobreza, tem em seu poder armas que custam milhares de dólares e as usam para desafiar as forças militares de um país?
Vou tentar responder, não com olhar de especialista em segurança ou socióloga. Mas com o olhar de quem estudou um pouco, professora que trabalhou em áreas carentes durante 16 anos, convivendo com essa violência e ouvindo de meus alunos as histórias sobre o 'status' proporcionado pelo tráfico.

"Durante a ditadura militar, universitários, professores, jornalistas, artistas, após as torturas, eram levados para o presídio da Ilha Grande, que favorecia o isolamento dos chamados 'guerrilheiros'. Os presos comuns (assaltantes, traficantes) passaram a ser mandados para lá. Muitos conflitos aconteciam, mas com o contato e a influência dos 'militantes' políticos que presos, tiveram reforçados seus ideais socialistas, os "comuns" aprenderam a organização e a formação da unidade com hierarquia.
Quando saíam de lá, tinham formado a idéia de coletivo e de que juntos eram mais fortes e queriam transformar a realidade em que viviam, voltavam refinados (enredo do filme Quase dois Irmãos de Lucia MURAT). Passaram então, aos grandes assaltos e sequestros. Com o que era faturado, faziam por suas comunidades o que o estado não supria (alimentos, remédios, auxílio), enviavam dinheiro e suprimento para os companheiro encarcerados e se armavam para as próximas ações.
Ficaram conhecidos como Robins Hoods, tirando dos ricos e dando aos pobre. Organizados, nascia no Rio de Janeiro, a Falange Vermelha que tinha como seu ideal Paz, Justiça e Liberdade.

Nesse período, a cocaína era consumida mais pelas classes ricas da sociedade, já que seu custo era alto. A droga, conhecida como ouro branco, frequentava as bandejas de prata das altas rodas, para divertir os que viviam do outro lado do túnel. Cocaína era coisa de rico, os pobres consumiam maconha.
Temos na guerra do Vietnam e no movimento Hippie a difusão dos ácidos, que logo se tornaram moda entre os usuários da classe media alta do Rio de Janeiro.

Com o tempo, os traficantes estavam melhor organizados e os consumidores afoitos, isso atraiu a atenção dos Barões do pó, que viram aqui no Rio um grande filão. Com as misturas, baratearam a coca e fizeram acordos rentáveis para os dois lados. É a oferta/procura do comércio, 'quanto mais barato for, mais eu vendo'. Aumenta então o consumo da cocaína. Foi um grande passo.
Como em toda unidade, aconteceram os rachas. A base do grupo intitúla-se então como Comando Vermelho e as dissidências envolvem-se em disputas por território e formam mais duas facções, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos, que até os dias de hoje travam uma guerra entre si e fazem do cidadão comum seu alvo e refém .

Durante esses anos surge novo personagem dessa "guerra". Criado em uma comunidade pobre de Duque de Caxias na Baixada Fluminense. Um homem, que por sua sede de poder, se tornava o maior traficante do estado. Os especialistas para acalmar nossa elite, diziam que esse homem era um Zé ninguem, que não tinhamos o que temer. Até o governo americano começar uma investigação na Colômbia e descobrir que Luiz Fernando da Costa tinha ligações com as FARC. Conhecemos então, Fernandinho Beira-Mar, o maior narcotraficante da história do nosso país, trouxe para o Brasil as táticas de guerrilha e as armas pesadas. Eliminava os inimigos, impondo seu poder nas comunidades e no asfalto. Beira-Mar ficou conhecido nacionalmente durante os atentados (de 1980 de 1990 e 2002) nesses períodos vivemos dias de terror, sob julgo da sede de poder de um homem, e nossa elite não valorizava o problema. Através da mídia ouvíamos os especialistas dizerem que eram fatos isolados. Enquanto os problemas ficassem restrito as comunidades, eram tratados como guerra entre traficantes.
A polícia sempre utilizou da política da intimidação. Entrava nas favelas, prendia, matava, extorquia tudo com o aval e a proteção do estado e o maior de todos os erros "apoio da elite" e da "imprensa".

As favelas cresciam, e os novos líderes que surgiam, cada um querendo ser mais forte e poderoso não assustavam as autoridades. A elite estava sendo protegida e a geografia da cidade auxiliava a segurança da área nobre, área dos nossos cartões postais, área da nossa alta sociedade.
E como disse Ralph Emerson (1803/1882), "Todas as vantagens têm o seu imposto".