quinta-feira, 9 de setembro de 2010

"Choque de ordem?"

Quando recebi a notificação da minha aposentadoria, chorei.
Foi um desespero saber que estavam me tirando o que sempre tive como mais importante, o meu trabalho. Não me vejo fazendo outra coisa. E por isso não penso em desistir. Olhei meu computador e pensei: "Já que eles não querem me ouvir, é com ele que vou incomodar."
Não é justo tratar o trabalhador dessa forma. Alguns dos que me leem, já me questionaram e você pode estar pensando o mesmo "O que essa mulher tá querendo? Já está aposentada. Pode ter renda dupla, ganhar na iniciativa privada e receber da previ-rio uma aposentadoria que muitos trabalhadores não alcançaram.".
Eu não me sinto bem com essa situação. Lutei muito para alcançar o que queria, leciono a 20 anos. Trabalhando como educadora, falava sempre aos meus alunos para serem justos, não se calarem diante de um erro, cometido por eles ou não.
Por isso estou aqui, não vou me calar.
Tenho andado, usando o tempo que errôneamente me foi dado. Hoje fui a São Cristóvão, e uma colega me levou ao Jacarezinho. Um lugar que eu não conhecia de verdade, só pela televisão. O que vi não é novidade, crianças sem inocência, se drogando e prostituindo.
Então que abordagem diferente posso fazer sobre assunto tão corriqueiro no noticiário do dia a dia da nossa cidade?
Dizer que as mazelas da nossa sociedade a muito se tornou um grande e lucrativo negócio para alguns?
Dizer que não é de interesse das autoridades resolver algumas questões?
Sem amparo, nossas crianças estão na rua, sendo acolhidas pelo tráfico e por exploradores.
O governo se justifica por não dar assistência aos nossos jovens: "Por não ter profissionais em número suficiente. Por não ter estruturas suficientes. Por não ter verba suficiente. Etc". Crianças na rua se drogando e prostituindo é um bom negócio para alguém?
Hoje não se faz o mínimo para modificar essa realidade. Mas com certeza nas próximas eleições, iremos ouvir promessas do candidato a reeleição, dizendo em sua campanha que a meta será tirar as crianças das ruas e do vício do crack. Adiando portanto as soluções. Porque, crianças na rua ainda é um bom negócio para alguém.