quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

" A água das chuvas, alaga diversos pontos da Cidade. Mesmo assim a prefeitura consegue escoar R$ 1,3 milhão pelo ralo".

A cada nova entrevista que assisto, o descaso do Prefeito Eduardo Paes com assuntos importantes para a cidade do Rio de Janeiro me espanta.
Com postura de garoto propaganda, faz do Rio um portal de gastos supérfulos, enquanto as providências necessárias para o bem estar dos cariocas ficam no esquecimento. Os alagamentos constantes não são focados como metas prioritárias.
Os desabamentos do início do ano ainda estão em estudo, engenheiros denunciam que as obras não foram nem projetadas e alertam para o perigo que a população corre com as chuvas de verão.
Não sou especialista, mas os noticiários apresentam os possíveis locais onde moradores correm risco de perdas materiais e mortes. A única solução da prefeitura será o pagamento de aluguel social para os sobreviventes após as tragédias?
Em 15/12, na TV Bandeirantes Rio, o prefeito declarou ser "homem político" e que adora ser "prefeito da Cidade". Eu declaro que sou cidadã e que adoraria ter um prefeito que se interessasse de verdade com a população e com toda a cidade.
Além das notícias que tenho partilhado, encontrei mais uma das mega produções do 'príncipe'.
O cantor Luan Santana fará show para uma parte os servidores públicos da rede . Bom para quem aplaude ver o dinheiro arrecadado pela prefeitura sendo gasto de forma tão seletiva. Com a preparação do espetáculo que será oferecido para os sorteados e o cachê do artista, sairão dos cofres públicos através da RIOTUR a quantia de 1,3 milhão. O evento corporativo não foi fechado diretamente com os empresários do artista, mas com a empresa "Daniel Alves da Cunha Locação de Equipamentos".
A contratação do empresário foi feita sem licitação, o que é permitido pela Lei 8.666/93, que trata das concorrências públicas. A lei não fixa um teto para pagamento de artistas, uma vez que esse tipo de orçamento não tem critério objetivo.
O vereador Paulo Pinheiro (PPS) manifestou em plenário,sua crítica a essa contratação. Concordo com ele, essa verba poderia ser melhor empregada nos hospitais, ou revertida em benefícios para os funcionários.
Aos servidores que não concordam com o presente, resta a insatisfação.
Aos moradores da cidade resta a indignação de não ter seus impostos gastos com obras que beneficiem a todos os que contribuem.

Restam algumas perguntas. Quem é o verdadeiro intermediário desse grande negócio? Quem será beneficiado com esse mega evento? Quem é Luan Santana? Quem é Daniel Alves? Está sobrando dinheiro nos cofres municipais? Quantas cestas básicas seriam montadas e distribuídas? (no Complexo, por exemplo?) Porque pagar 1,3 milhões para um único cantor se no réveillon de 2009 foram gastos 1,7 milhões para mais de 15 artistas?
Conversando com um amigo ele disse a seguinte frase:
"Funcionários da prefeitura não querem circo, eles preferem melhores salários e condições de trabalho".

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Princípio. Que culminou com a "guerra" no Rio.

Nesses dias tensos no Rio de Janeiro, o Brasil e o mundo estão se perguntando: Que guerra é essa? Como pessoas que vivem na pobreza, tem em seu poder armas que custam milhares de dólares e as usam para desafiar as forças militares de um país?
Vou tentar responder, não com olhar de especialista em segurança ou socióloga. Mas com o olhar de quem estudou um pouco, professora que trabalhou em áreas carentes durante 16 anos, convivendo com essa violência e ouvindo de meus alunos as histórias sobre o 'status' proporcionado pelo tráfico.

"Durante a ditadura militar, universitários, professores, jornalistas, artistas, após as torturas, eram levados para o presídio da Ilha Grande, que favorecia o isolamento dos chamados 'guerrilheiros'. Os presos comuns (assaltantes, traficantes) passaram a ser mandados para lá. Muitos conflitos aconteciam, mas com o contato e a influência dos 'militantes' políticos que presos, tiveram reforçados seus ideais socialistas, os "comuns" aprenderam a organização e a formação da unidade com hierarquia.
Quando saíam de lá, tinham formado a idéia de coletivo e de que juntos eram mais fortes e queriam transformar a realidade em que viviam, voltavam refinados (enredo do filme Quase dois Irmãos de Lucia MURAT). Passaram então, aos grandes assaltos e sequestros. Com o que era faturado, faziam por suas comunidades o que o estado não supria (alimentos, remédios, auxílio), enviavam dinheiro e suprimento para os companheiro encarcerados e se armavam para as próximas ações.
Ficaram conhecidos como Robins Hoods, tirando dos ricos e dando aos pobre. Organizados, nascia no Rio de Janeiro, a Falange Vermelha que tinha como seu ideal Paz, Justiça e Liberdade.

Nesse período, a cocaína era consumida mais pelas classes ricas da sociedade, já que seu custo era alto. A droga, conhecida como ouro branco, frequentava as bandejas de prata das altas rodas, para divertir os que viviam do outro lado do túnel. Cocaína era coisa de rico, os pobres consumiam maconha.
Temos na guerra do Vietnam e no movimento Hippie a difusão dos ácidos, que logo se tornaram moda entre os usuários da classe media alta do Rio de Janeiro.

Com o tempo, os traficantes estavam melhor organizados e os consumidores afoitos, isso atraiu a atenção dos Barões do pó, que viram aqui no Rio um grande filão. Com as misturas, baratearam a coca e fizeram acordos rentáveis para os dois lados. É a oferta/procura do comércio, 'quanto mais barato for, mais eu vendo'. Aumenta então o consumo da cocaína. Foi um grande passo.
Como em toda unidade, aconteceram os rachas. A base do grupo intitúla-se então como Comando Vermelho e as dissidências envolvem-se em disputas por território e formam mais duas facções, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos, que até os dias de hoje travam uma guerra entre si e fazem do cidadão comum seu alvo e refém .

Durante esses anos surge novo personagem dessa "guerra". Criado em uma comunidade pobre de Duque de Caxias na Baixada Fluminense. Um homem, que por sua sede de poder, se tornava o maior traficante do estado. Os especialistas para acalmar nossa elite, diziam que esse homem era um Zé ninguem, que não tinhamos o que temer. Até o governo americano começar uma investigação na Colômbia e descobrir que Luiz Fernando da Costa tinha ligações com as FARC. Conhecemos então, Fernandinho Beira-Mar, o maior narcotraficante da história do nosso país, trouxe para o Brasil as táticas de guerrilha e as armas pesadas. Eliminava os inimigos, impondo seu poder nas comunidades e no asfalto. Beira-Mar ficou conhecido nacionalmente durante os atentados (de 1980 de 1990 e 2002) nesses períodos vivemos dias de terror, sob julgo da sede de poder de um homem, e nossa elite não valorizava o problema. Através da mídia ouvíamos os especialistas dizerem que eram fatos isolados. Enquanto os problemas ficassem restrito as comunidades, eram tratados como guerra entre traficantes.
A polícia sempre utilizou da política da intimidação. Entrava nas favelas, prendia, matava, extorquia tudo com o aval e a proteção do estado e o maior de todos os erros "apoio da elite" e da "imprensa".

As favelas cresciam, e os novos líderes que surgiam, cada um querendo ser mais forte e poderoso não assustavam as autoridades. A elite estava sendo protegida e a geografia da cidade auxiliava a segurança da área nobre, área dos nossos cartões postais, área da nossa alta sociedade.
E como disse Ralph Emerson (1803/1882), "Todas as vantagens têm o seu imposto".